Imagem de um Kindle exibindo a capa do livro "Três" de Valerie Perrin, sobre os livros Correntes, de Olga Tokarczuk e Suite Tóquio, de Giovana Madalosso. Atrás estão diversos outros livros desfocados.

Meus Livros Favoritos de 2024

Já penduraram decorações de Natal em todo lugar. A Black Friday passou e muitos receberam o convite para pelo menos um amigo secreto. Aqui, em Florianópolis, a cidade já começa a ficar cheia com os turistas que vieram buscar o começo da temporada de verão e só encontraram chuva. Tudo isso gera um clima de retrospectiva, de olhar para o que fizemos neste ano que passou mais rápido do que devia. Seguindo a tradição que comecei no ano passado, vim aqui para falar um pouco sobre os melhores livros que li em 2024.

Mas antes, deixo alguns esclarecimentos. Primeiro, essa é uma lista pessoal das leituras do ano, sendo que a maioria dos livros que estão aqui não foram publicados em 2024. Se você está procurando uma lista com os melhores livros de 2024, você está no lugar errado. Depois, estou deixando de fora todas as excelentes leituras sobre escrita criativa e storytelling, já que falei delas em um post separado. Se não fosse o caso, muitas também estariam aqui.

Por fim, a lista não está em nenhuma ordem de preferência. Ah, e se você por acaso estiver lendo esse texto e pensar “nossa, se o João leu esse livro ele com certeza gostaria desse outro”, por favor, me conte! Deixe um comentário aqui no post ou me escreva, estou sempre procurando novas recomendações.

Como em 2024 comecei um projeto novo, a newsletter Mil Palavras, todos os meses compartilho um pouco das minhas leituras. Também falo de obras que estão relacionadas com o conto que escrevi naquela edição. Se quiser receber novas recomendações todos os meses, é só colocar seu email aqui embaixo. É de graça. 🙂

Tirando tudo isso da frente, vamos às minhas leituras favoritas de 2024.

Imagem de um Kindle exibindo a capa do livro "Oração Para Desaparecer" de Socorro Acioli, sobre os livros Diorama, de Carol Bensimon; O Inconsciente Corporativo e Outros Contos, de Vinicius Portella e; O Céu Para Bastardos, de Lilia Guerra. Atrás estão diversos outros livros desfocados.

6 Livros Que Marcaram Meu 2024

Oração Para Desaparecer – Socorro Acioli

Socorro Acioli sabe como começar um livro e nos deixar imediatamente curiosos. Nas primeiras páginas acompanhamos uma mulher, sem nome, que acorda enterrada. Aos poucos vê seu corpo reganhando força, cospe a terra da boca, sai da cova onde estava. A princípio não fala, não lembra quem é. Quando recupera a voz descobre que tem um sotaque brasileiro, como diz o casal de idosos que a acolheu onde foi encontrada, em uma vila no interior de Portugal. Começam a se referir a ela como mais um dos “ressurectos”.

A história curta é belíssima. Socorro discute temas como nossas origens, quem somos e quem escolhemos ser. Quem fomos, quem nos amou e quem não pode mais nos amar. É uma leitura essencial da nossa literatura contemporânea.

Três – Valerie Perrin

Quando li a sinopse de Três, não imaginei que a história fosse me cativar tanto. O livro acompanha as vidas de três crianças, aos dez anos, quando se conhecem na escola, mostrando seu relacionamento sendo construído até se tornarem uma entidade coletiva, “os três” que estão sempre juntos. Ao mesmo tempo, a autora mostra pedaços de suas vidas trinta anos depois. São tantas lacunas que eu ficava desesperado para entender como aquela relação se transformou nesse tempo que não é exposto.

Quando acabei, estava tão próximo dessas personagens que demorei a me distanciar da história. Valerie Perrin faz um trabalho magistral, orquestrando vidas com talento e nos deixando com aquela nostalgia gostosa que poucos livros conseguem causar.

Holocausto Brasileiro – Daniela Arbex

O único livro de não-ficção na lista conta a história de um antigo manicómio em Barbacena, Minas Gerais. A jornalista Daniela Arbex reúne em uma grande reportagem (que recentemente foi adaptada para um documentário), a história de pessoas ali enclausuradas. Com muita dor, relata as visitas que ela mesma fez ao local, hoje finalmente desativado. Mostra também como o manicómio funcionava como punição para comportamentos indesejados: não era incomum ver mulheres que desobedeciam os maridos serem internadas como loucas, condenadas a viver suas vidas em um inferno criado em solo brasileiro.

O livro também traz uma coleção de fotografias impactantes feitas durante a visita do fotojornalista Luiz Alfredo, muito antes de Daniela pensar em escrever o livro. É uma obra que esclarece mais um pouco sobre as dinâmicas sociais na história do nosso país.

A Polícia da Memória – Yoko Ogawa

Em uma ilha sem nome, coisas começam a desaparecer. Primeiro são objetos pequenos, mas aos poucos as coisas fogem do controle. O problema é que, quando essas coisas desaparecem, as pessoas começam um processo natural de esquecê-las. Logo voltam a viver suas vidas como se aqueles objetos nunca tivesses existido. Exceto que algumas delas se lembram, e é para elas que existe a polícia da memória.

A obra, que completou trinta anos de publicação em 2024, é um ensaio um tanto fantástico sobre a vigilância do Estado e o que um regime totalitário pode fazer com nossas mentes. Apesar do tema pesado, é uma leitura leve e que nos guia com curiosidade pelo mundo construído por Yoko Ogawa.

Piranesi – Susanna Clarke

Comecei a ler Piranesi despretensiosamente. Não sabia muito sobre a história, peguei o livro por indicação de uma amiga, mas isso fez a leitura ainda mais interessante. A autora nos coloca na perspectiva de um personagem que está em um mundo que a princípio não faz sentido, formado por inúmeros salões conectados entre si e cercados pelo mar, por vezes inundados por conjunções de diferentes marés. Toda a história é contada a partir de relatos no diário do protagonista, que está quase sozinho nesse mundo—só há outra pessoa que vez ou outra aparece, a qual ele chama de “Outro”.

Logo nos primeiros capítulos fiquei curioso. Queria saber o que estava acontecendo, porque o personagem escrevia daquele jeito estranho, em que tempo se passava a história, que lugar era aquele, qual era a relação dele com o “Outro” e se aqueles personagens eram mesmo humanos. Pouco a pouco, Susanna Clarke foi me dando as respostas. Quando percebi, também estava preso na “Casa” e não queria sair dela tão cedo.

Se você gosta de realismo fantástico com pitadas de mitologia, vale dar uma olhada.

As Virgens Suicidas – Jeffrey Eugenides

Conheci esse livro, publicado no começo dos anos 1990, em um curso de escrita da
Carol Bensimon. Lemos um pequeno trecho do primeiro capítulo para avaliar o uso de detalhes e do movimento do tempo na narrativa. Um mês depois, discutimos sobre o livro como um todo. Não há muitos spoilers para dar aqui: as cinco filhas da família Lisbon, extremamente religiosa e conservadora, cometem suicídio. Somos convidados a assistir suas vidas um pouco de fora, da perspectiva dos garotos do bairro que frequentavam o mesmo colégio que as irmãs. O resultado é uma história que revela mais sobre os narradores do que sobre as garotas.

Menções Honrosas

Nem todas as leituras que me interessaram estão na lista acima. Algumas me divertiram bastante, apesar de não me prenderem tanto quanto as que citei. Não vou entrar em detalhes sobre cada uma delas, mas achei importante mencioná-las.

Suíte Tokyo – Giovana Madalosso
All Systems Red – Martha Wells
A Invenção de Morel – Pedro Bioy Casares
O Mestre e Margarida – Mikhail Bulgakov
Nexus – Yuval Noah Harari

Espero que tenha gostado das recomendações. Se achar que vou gostar de algum livro que não está nessa lista, deixe um comentário! Você também pode acompanhar recomendações mensais, junto com um conto inédito, assinando a Mil Palavras abaixo.

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