Há algum tempo comecei a anotar os livros que lia, fazendo uma lista por ano no aplicativo de notas no celular. Mais do que me incentivar a acumular leituras, algo que tento evitar pela ansiedade constante que isso gera, a ideia era me lembrar daquilo que tinha me acompanhado naquele período. Quando o ano chega ao fim, gosto de olhar para cada item dessa lista, pensando no que me lembro daquela obra, e às vezes olhar as citações que guardei.
Não vou compartilhar a lista completa aqui. Algumas leituras não foram tão interessantes assim, e outras só explorações de aprendizado que poderiam transformar essa lista em algo mais temático. Mas alguns livros me marcaram mais do que outros, e escolhi cinco deles para compartilhar aqui no blog.
Todos os livros na lista abaixo têm o link diretamente para o site da editora.
Véspera – Carla Madeira
Em 2023 eu fui um entre centenas de milhares de leitores e leitoras que contribuíram para que Carla Madeira se tornasse a romancista brasileira com obras mais vendidas no ano. Já estou com o famoso “Tudo é Rio” na fila, mas por recomendações de amigos resolvi começar a conhecê-la por “Véspera”, publicado em 2021. A combinação da profundidade dos personagens e dos detalhes, e um ritmo de narrativa rápido, moderno, que deixa uma pitada de curiosidade no final de cada curto capítulo, me pegou logo de cara. Cada pedaço da história de famílias, colegas, amigos, e casais reforçam uma realidade que se torna mais clara à medida que envelhecemos: ninguém é “normal”. O sucesso de Carla Madeira não veio à toa.
Os Supridores – José Falero
Outra obra brasileira na lista é o primeiro romance de José Falero, autor de Porto Alegre que escreve sobre a desigualdade na cidade (e no Brasil) com realismo e humor. O livro fala de gente que trabalha duro e está cansada de se dar mal na vida simplesmente porque o sistema está contra elas. Enquanto aponta problemas sociais mais enraizados, Falero conta a história de dois jovens que resolveram que a vida podia ser mais do que o que tinham.
On Photography – Susan Sontag
A fotografia esteve muito presente durante todo o meu 2023. Além de ter participado de exposições, me dediquei a estudar a técnica, a prática, e a teoria da fotografia, o que me levou a conhecer a obra prima de Susan Sontag. No livro ela fala sobre a arte a partir de diversos olhares, às vezes históricos e práticos, e em outras ocasiões um pouco mais filosóficos. Recomendo a leitura para qualquer um que se aventure a capturar o mundo através das imagens. Deixo aqui a citação que mais me marcou, sobre como nos comportamos ao fotografar.
The camera is a kind of passport that annihilates moral boundaries and social inhibitions, freeing the photographer from any responsibility toward the people photographed. The whole point of photographing people is that you are not intervening in their lives, only visiting them. The photographer is a super tourist, an extension of the anthropologist, visiting natives and bringing back news of their exotic doings and strange gear. The photographer is always trying to colonize new experiences or find new ways to look at familiar subjects—to fight against boredom. For boredom is just the reverse side of fascination: both depend on being outside rather than inside a situation, and one leads to the other.
Susan Sontag, On Photography
Irmãs da Revolução
Mais para o lado da ficção científica e especulativa, a antologia Irmãs da Revolução reúne histórias de 30 autoras, todas mulheres, que retratam mundos alternativos, fantásticos, e colocam nossas crenças e costumes sob novos olhares. De histórias que retratam estruturas gramaticais como dádivas, até discussões sobre o tempo, cada conto é um tesouro por si só. Além de obras de autoras como Ursula K. Le Guin e Octavia Butler, a edição brasileira tem o conto “A Mulher Que Vestiu A Montanha”, da sempre incrível Aline Valek.
Tomorrow, tomorrow, and tomorrow – Gabrielle Zevin
Por fim, uma obra de ficção mais jovem. “Tomorrow, tomorrow, and tomorrow” me interessou por falar da amizade através dos anos, de criatividade, de game design, e dos caminhos tortuosos que a vida constrói. Além de deixar um pouco de saudade depois do fim, o livro também foi responsável por colocar algumas outras obras de não-ficção sobre desenvolvimento de jogos independentes e narrativas digitais na minha lista de leitura.
‘What is a game?’ Marx said. ‘It’s tomorrow, tomorrow, and tomorrow. It’s the possibility of infinite rebirth, infinite redemption. The idea that, if you keep playing, you could win. No loss is permanent, because nothing is permanent, ever.’
Tomorrow, tomorrow, and tomorrow. Gabrielle Zevin
Por enquanto é só. Em 2024 planejo compartilhar algumas leituras ao longo do ano, talvez com um pouco mais de detalhe. Mas tudo vai depender do que o tempo permitir. Enquanto isso, boa leitura.